08/05/2020 | Eleições 2020

Valéria Paes Landim fala dos desafios das mulheres na política durante live Essent Jus


Por Essent Jus
Assessoria de Comunicação
Tempo de leitura: 4 minutos

Os principais desafios para as mulheres na hora de fazer campanhas e conquistar votos: este foi o tema debatido por Valéria Dias Paes Landim, advogada e fundadora do Observatório Nacional de Candidaturas Femininas, juntamente como o CEO da Essent Jus, Guilherme Sturm, em mais uma live promovida pela Essent Jus.

 

Dia a dia da campanha: o desafio das mulheres conquistarem o voto

Valéria destacou durante a live que é preciso falar sobre as mulheres na política de uma forma dialogada. Foi direto ao ponto quando retratou o ranking do Brasil no que diz respeito ao incentivo de mulheres na política. “De uma lista de 190 países, o Brasil ocupa a 140ª posição quanto à presença feminina nos parlamentos nacionais, atrás de países como a Eritreia, que tem um dos piores IDHs do mundo, da Bósnia Herzegovina, com baixa qualidade de vida e com histórico de instabilidade de paz e guerra, da Etiópia, Somália e Sérvia que, segundo o índice de fome do GHI (Global Hunger Index), têm uns dos piores cenários de fome e de desnutridos no mundo”.

E o que justifica uma posição tão ruim?

Por que é tão difícil uma mulher conseguir um mandato, disputar um cargo eleitoral? Para responder esta pergunta, Valéria fala de questões culturais e históricas. “A literatura fala que a coisa pública foi dada ao homem e o privado à mulher. Tradicionalmente as coisas do lar foram deixadas para a mulher, como o trabalho doméstico, o cuidado da família, dos filhos. Isso faz parte da cultura não somente dos países, das nações, mas também faz parte do fortalecimento de uma cultura machista. O homem ficou com a liberdade para trabalhar, com tempo para se dedicar às atividades de trabalho fora do lar. O trabalho doméstico faz com que a mulher se afaste e diminua sua chance de atuar na política”, explica.

Brasil: estatística de mulheres na política

De 5570 municípios, temos apenas 649 prefeitas. “Ou seja, nossa representatividade hoje nos municípios é de apenas 11%. Para cada 7,5 homens, temos apenas uma mulher. Um outro ponto que precisamos saber é onde promover as candidaturas femininas. Atualmente, a região nordeste lidera com a presença de prefeitas, com 16% de mulheres liderando as prefeituras, totalizando 288 prefeitas. Já no sudeste, temos 145 prefeitas. A região sul possui uma das piores estatísticas, totalizando apenas 88 prefeitas. O norte possui 68 e centro-oeste 60”, revela.

As mulheres não foram educadas para falar de política

De acordo com Valéria, o aspecto da escolaridade é um fator que dificulta o manejo e circulação das mulheres dentro dos partidos políticos. “Embora 71% das mulheres tenham formação superior, não fomos educadas para falar de política. Então a questão da escolaridade precisa ser aperfeiçoada”, salienta.

Outra questão também são as profissões destas mulheres que estão ingressando na política. “Pesquisa realizada recentemente aponta que as prefeitas eleitas são professoras, ou do serviço público, do lar ou de movimentos sociais. Já o perfil dos prefeitos, no que diz respeito as suas profissões, são oriundos do comércio, agropecuária, de profissões mais lucrativas, mais próximas do povo e, também, do empresariado. Isso quer dizer que o homem vai ter mais recursos pessoais para investir em uma campanha. Vale destacar também que a pesquisa mostra que o voto feminino é mais caro. Enquanto o valor de um voto para um homem custaria R$ 6,15, para a mulher este valor é de R$ 7,00”, enfatiza.

A pesquisa citada por Valéria revelou também que o patrimônio das prefeitas eleitas era 55% menor em relação aos dos prefeitos. “O fator financeiro sempre será potencialmente desigual. Então, o aspecto dinheiro é um dos entraves para que as mulheres não consigam ter tanto êxito se não tiver os recursos do Partido, do Fundo Eleitoral para investir na candidatura”.

Faça parte da maior Comunidade de Empresas de Contabilidade Eleitoral do Brasil!

Seja uma contabilidade associada Essent Jus

Apoio familiar

O apoio familiar é outro fator determinante para o ingresso e a permanência das mulheres na política. Enquanto os homens são apoiados pela família, as mulheres são questionadas pelos integrantes da família. “Precisamos mudar esta questão da cultura nacional no que diz respeito ao apoio das mulheres que desejam se lançar como candidatas”.

Jornada de trabalho

Valéria ressalta que as mulheres são multitarefas. As que são casadas precisam cuidar do marido e dos filhos, precisam cuidar do lar, além de administrar as questões profissionais. Então que tempo sobre para fazer campanha? “Os países nórdicos, por exemplo, desenvolveram políticas públicas para que as mulheres pudessem ter condições de tempo de é trabalhar suas campanhas eleitorais. Já no Brasil, as mulheres de periferia dependem de creche para auxiliar nos cuidados dos filhos. E se não tiver creche?”, questiona.

Outra questão levantada por Valéria é o de dominação, patriarcado. “Se o marido for ciumento, como pedir votos na rua, sendo que a política é relacionamento com as pessoas? Dentre tantos outros fatores, o ponto é que esta realidade precisa ser mudada”.

 

Assédio no espaço político

Uma das perguntas da audiência durante a live foi sobre o assédio no espaço político. Valéria explicou que esta forma de assédio é considerada como um segundo fator de obstáculo para o ingresso das mulheres na política. De acordo com Valéria, assédio político é toda forma de obstruir ou prejudicar a atuação feminina nos espaços políticos. “O assédio à mulher durante as campanhas existe, mas isso não pode nos tirar o foco. Vai acontecer de homem esconder material de propaganda, vai ter homem dizendo que o recurso não chegou, ou tentar substituir a mulher por um homem durante um comício. Estas situações existem e precisam ser vencidas. A violência política é uma forma de desacelerar as candidaturas femininas e de tirar as mulheres da política”, finalizou.

 

A live completa pode ser assistida AQUI

 

Saiba mais sobre Valéria Paes Landim

Valéria Dias Paes Landim é advogada eleitoral há 12 anos, natural do Piauí. Ex-aluna da Academia de Direito Internacional de Haia. Mestranda em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público. É fundadora do Observatório Nacional de Candidaturas Femininas, criado com o objetivo de apoiar, qualificar e garantir a presença das candidaturas femininas em dificuldades nas eleições 2020.

 

 

 

 

 

COMPARTILHE:
MATÉRIAS RELACIONADAS
22/04/2020 | Eleições 2020

Contabilidade em cenário de crise: confira um resumo da live com Ana Tércia e Guilherme Sturm

Como enfrentar os desafios impostos pelas mudanças no mundo? Como encarar as transformações nas relações de trabalho, especialmente na contabilidade, causadas pela pandemia do Coronavírus? Com estes question...
08/05/2020 | Eleições 2020

Live Essent Jus: propaganda eleitoral em debate, com o advogado Delmiro Campos

Propaganda eleitoral: este foi o tema da live Essent Jus na noite de terça-feira, 14 de abril, que teve como convidado especial o advogado Delmiro Campos. Um dos primeiros assuntos assuntos foi a propaganda em tempos de pré-campanha. O...
08/05/2020 | Eleições 2020

Live com Denise Schlickmann debateu uso de recursos públicos nas campanhas

Uso recursos públicos para financiamento de campanhas, transferência de recursos entre partidos, unificação das eleições, gastos de pré-campanha: estes foram alguns dos temas debatidos em mais uma live ...
26/05/2020 | Eleições 2020

Frederico Rafael Almeida fala dos avanços tecnológicos da Justiça Eleitoral durante live da Essent Jus

Avanços tecnológicos: este foi o tema da live realizada com Frederico Rafael Almeida, analista judiciário do Tribunal Eleitoral Regional do Paraná e com 15 anos de experiencia no direito eleitoral, além de professor...